quarta-feira, setembro 21, 2005

O encontro

A mesa está posta. São apenas dois lugares. O homem entra cansado. A mulher já o esperava sentada. Não. Não é nada disso. Voltamos. Só mais um pouco. A mulher destecia o fio pela madrugada a dentro, enquanto o homem, moído, entregava o corpo à areia morna da praia e dormia. Depois, quando a manhã veio, o homem, indigente, foi até o palácio para ver a mulher.

Não. Também não é nada disso. Vamos agora para a frente. Vamos saltar a luta desse homem, o trabalho da mulher fiando e desfiando, o jantar em que os dois mal tocam a comida que está no prato, para se alimentarem só de olhares. Vamos esquecer tudo isso e ir direto ao ponto. Ao grão que finalmente vai ser plantado para, de novo, preencher o mito.

Sim. O homem e a mulher entram no quarto. A cama está perfeita e macia e eles se deitam. Uma mão toca a outra, os dedos se acarinhando. A penumbra não deixa que as miradas sejam vistas, mas o homem e a mulher sabem que ambos se encaram no escuro. E é porque não podem ver nada que, olhando-se um ao outro através de um véu denso, podem divisar uma paisagem ultra humana, além e aquém daquele momento.

Nesta noite, homem e mulher finalmente alcançam vislumbrar todas as outras noites. Enxergam, então, as guerras, as solidões, as vertigens, as viagens, o fio que é tramado e destramado, a areia morna da praia, o arado, o jantar e, finalmente, a cama macia. Os dedos de um e de outro que se acham para, em carinho que não desiste, principiar a descobrir que o verdadeiro encontro começou na espera.

E tudo é decidido, como se deuses conspirassem para aquilo.

3 comentários:

Lina disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Lina disse...

Aceitei sua sugestão e fiz um corte seco no texto dos furacões. Fiz uma edição simples, até mesmo porque eu não teria como continuar a escrever uma coisa que já estava pronta há tanto. Então só cortei a última frase. Um beijo.

Anônimo disse...

o verdadeiro encontro começou na espera...

espera...

espera...

(risos aflitos)