sexta-feira, novembro 03, 2006

O vômito da aluninha

Odeio as palavras. Esse poder que elas têm é mais que tudo, mais que todos, e isso é surreal. Eu as odeio porque elas entram em mim mas não saem. Por causa delas e só delas, não consigo fazer com que nenhum ato comunicativo meu seja completo. Elas parecem só ter uma via pra mim. Mão única. E passam, me atropelando e buzinando, como se não me vissem andar pela calçada, à margem do alcance delas. Mas não estou à margem nem fora do alcance dessas subjetivas, simbólicas, endiabradas e angelicais palavras. Elas me arruinaram porque não me deixaram que as usasse, antes pelo contrário – elas me usam e fazem de mim o que bem querem. Sou uma bêbada equilibrista, tentando catar umas poucas palavras para as sorver em goles amargos. E ser mais louca ainda tentando compreendê-las e dissecá-las. Deve ser por isso que nos odiamos tanto. Elas não me deixam que as entenda e em troca pelo meu atrevimento, não deixam que eu seja entendida por ninguém. Elas se fazem de boazinhas e deixam que nós (pobres seres humanos, cativos ao poder dessas Medeias) nos compreendamos por elas pra depois tirar da gente todo entendimento. Prozac, guerras, fome, isolamento, solidão. Pra isso elas não prestam, pra ajudar a resolver isso elas não prestam. São umas preguiçosas.
Nunca consigo usá-las do jeito que quero e por isso as odeio. São umas emprestáveis, preguiçosas, cínicas e falsas. Quando você pensa que elas são suas amigas, é melhor tomar cuidado: é só uma armadilha pra que te dêem o bote. Pra que depois você não consiga se desenredar delas. Pra ficar como eu: dependente químico, biológico, psicológico e lógico de palavras, e amá-las mais que a vida apesar de odiá-las mais que à morte. Elas são mesmo um bando de filhas da puta. Ah, se eu fosse uma palavra!... Acho que ia pensar mais ou menos assim:
Louca
Nua
Pouca
Crua
Sou uma palavra nojenta e desvairada,
Que te espanta no seu ócio e no seu hiato criativo
E você, ser humano... (idiota!)
Não passará e não conseguirá nada sem antes ter o meu crivo.
No meu trono me assento e dele me levanto,
Faço dele o uso que quiser
Porque na verdade meu trono
É a cabeça de quem lá dentro me puser.
-Texto de Meghie Rodrigues, minha aluna do 6° período de Jornalismo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Puta merda, esse sim foi de jeito.

(...)

Abraço, grande Ed!

Nilmar Barcelos disse...

Bom texto, boa idéia... e o título ficou perfeito =)

Anônimo disse...

Meghie! siplesmente perfeitoO
Te admiro não só na forma que vc escreve, mas como pode ter tamanha inspiração!
meu orgulho

TE AMO MUITO!
vc já sabe minha opinião né?

PERFEITO!

Anônimo disse...

Nossa... adorei!
Abraços, Ed!

C. Canellas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.