quarta-feira, junho 30, 2010

Balada das três mulheres do Sabonete Araxá

As três mulheres do sabonete Araxá me invocam, me bouleversam, me hipnotizam,
Oh, as três mulheres do sabonete Araxá às 4 horas da tarde!
O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!

Que outros, não eu, a pedra cortem
Para brutais vos adorarem,
Ó brancaranas azedas,
Mulatas cor de lua vem saindo cor de prata
Ou celestes africanas:
Que eu vivo, padeço e morro só pelas três mulheres do sabonete Araxá!
São amigas, são irmãs, são amantes as três mulheres do sabonete Araxá?
São prostitutas, são declamadoras, são acrobatas?
São as três Marias?

Meu Deus, serão as três Marias?

A mais nua é doirada borboleta.
Se a segunda casasse, eu ficava safado da vida, dava para beber e nunca mais telefonava.
Mas se a terceira morresse…Oh, então, nunca mais a minha vida outrora teria sido um festim!
Se me perguntasem: Queres ser estrela? queres ser rei? queres uma ilha no Pacífico? um bangalô em Copacabana?
Eu responderia: Não quero nada disso, tetrarca. Eu só quero as três mulheres do sabonete Araxá:

O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!

-Manuel Bandeira

terça-feira, junho 29, 2010

BUSCA


 

Piruinha entrou dentro de casa e rodou três vezes, procurando o menino. Foi na sala, no corredor, no banheiro, entrou nos três quartos, olhou debaixo das camas, correu pra cozinha, abriu a porta dos fundos e gritou bem alto Ô, menino! Ô, menino! Mas o menino nada. Piruinha pensou O menino deve ter ido jogar pelada. Pensou isso assim e ficou morrendo de raiva. O menino tinha combinado com ela. E Piruinha não gostava de ser enganada, passada pra trás. Quando combinavam uma coisa com ela tinha que ser o certo. Foi por isso que Piruinha refez todo o trajeto. Desta vez, com raiva. Sala, corredor, banheiro, quartos, cozinha, quintal, bibocas. Gritou de novo Ô, menino! Ô, menino. O menino nada. Então, Piruinha deitou no chão da cozinha que era mais frio e siriricou uma lá mesmo.


 

Gozou até.

quinta-feira, junho 03, 2010

"SOU CRUZEIRENSE"

Devo confessar, como cara que paga os impostos em dia, luta por sua sobrevivência e a de sua família e torce pelo Cruzeiro - ou seja, como um bom pai, já que meus filhos são mais cruzeirenses do que eu - que me senti envergonhado ontem.

Envergonhado por ter "cornetado " o Adilson Batista.

Envergonhado por não ter entendido uma série de fatores.

Envergonhado por, ainda que minimamente, ter compartilhado, às vezes, com a opinião de certa parte de uma imprensa que só sabe olhar para o próprio umbigo e que torce descaradamente para o Clube Atlético Mineiro.

Envergonhado, finalmente, por ter colaborado para a demissão de Adilson Batista.

E quem é esse cara?

Um cara turrão, teimoso, cheio de erros e às vezes intolerante.

Mas um sujeito também que entende de futebol, que tinha um grupo nas mãos, que tinha uma vontade trepidante de acertar.

Mas Adilson Batista também era um homem, agora eu entendo, ímpar.

Por quê?

Porque em um mundo em que os treinadores de futebol mudam de time a todo momento e não respeitam minimamente a paixão do torcedor - uma paixão que é nossa e de nossos filhos e gerações - Adilson Batista foi o único que vi declarar seu amor por um clube.

Ontem, Adilson Batista disse: -EU SOU CRUZEIRENSE!

Pra mim, isso é motivo suficiente pra motivar minha vergonha e pra pegar esse Adilson Batista e dizer: - Olha, se você quiser, pode vir domingo aqui em casa, ver o próximo jogo do Cruzeiro junto comigo e com minha família.

Obrigado, Adilson.

E me desculpe por não saber que você era parte da minha família.