Uma namorada me fez um dia a seguinte ameaça: “Ou eu, ou o Cruzeiro”. E eu respondi: “Acho que você não quer saber essa resposta”.
Isso deixa tudo explicado. Não há nada mais para ser dito, mas existem muitas coisas que devem ser faladas. Afinal, o que é o amor senão falar sobre o que não precisa ser dito?
Eu tenho certeza que nasci cruzeirense. Muito, muito, muito antes da explosão do Big Bang eu já era cruzeirense. E tenho certeza que chorei de alegria quando tinha apenas alguns dias de vida e me deram meu primeiro presente: uma camisa do Maior de Minas, o meu eterno Santo Sudário, as cinco estrelas, a cruz, o Cruzeiro que eu carregaria sempre comigo. Não nas costas, mas do lado esquerdo do peito na camisa, e na pele.
Quantas vezes já não me perguntei o que era essa bobagem de torcer por onze homens correndo atrás de uma bola. Que coisa é essa de amar de um amor tão maior que a maioria dos amores existentes? Por que chorar quando perde? Por que ser a pessoa mais feliz do mundo quando ganha? Por quê? Pra quê?
Por que deixar de fazer tudo pra ver meu time jogar? Por que me matar de raiva por uns jogadores que, na maioria das vezes, não compartilham do meu sentimento?
Ora, o óbvio tem que ser ressaltado! Não jogam os jogadores, joga a camisa... O gênio não era o Alex, era a 10. O Fred, o Ronaldo, o Fábio Júnior, o Marcelo Moreno nunca fizeram um gol: a artilheira é a 9. Dida, Fábio, Gomes? Nada! Quem faz milagres é a 1. A 1, a 10, a 9, e mais aquela multidão de camisas azuis e brancas que eu sempre vi cantar na arquibancada...
Talvez eu seja cruzeirense porque meu pai quis assim, e ele porque meu avô quis. Mas não... E, sem querer desprezar a genética azul e branca da família, posso dizer que, mesmo tendo nascido no Japão, eu seria cruzeirense. Não faz sentido nenhum, eu sei. Mas é assim mesmo, o amor nunca precisou fazer sentido. Ele é uma certeza, e as dúvidas que o cercam só fazem aumentar o tamanho da convicção.
Quer ver só! Existe coisa mais bonita do que quando, com só oito anos, escutar alguém falando qualquer coisa do seu time e você lembrar o 6 a 2 do seu time em cima do Santos de Pelé? É claro que a mesa de atleticanos adultos ficou calada, sem ter o que responder.
Ou existe uma tristeza maior do que perder de goleada para o maior rival e ir ao cinema não para ver o filme, mas pra tentar esquecer pelo menos um pouquinho da tristeza daquele dia?
Existe esperança maior do que, em fevereiro de 2003, a caminho do Mineirão, amarrar no pulso uma pulseira do Senhor do Bonfim e fazer os seguintes pedidos: “eu quero que o Cruzeiro seja campeão mineiro”, “ eu quero que o Cruzeiro seja campeão da Copa do Brasil” e, por último, “eu quero que o Cruzeiro seja campeão brasileiro”? Tem coisa melhor do que sentir que contribuí para a conquista de uma Tríplice Coroa?
É, isso é amor. Alegria, tristeza, esperança, mas, principalmente, confiança. E eu confio, e eu amo, e eu sou...
Nunca foi só paixão, sempre foi muito mais que isso. Sempre foi inabalável, incorrigível e rebelde. Vai além das minhas idéias, das minhas opiniões, do meu estado de espírito. Antes de me chamar João Gabriel, eu era cruzeirense. Antes de escrever qualquer coisa, eu era cruzeirense. Antes do céu e da terra, eu era cruzeirense. Antes de acreditar em Deus, eu era cruzeirense. Antes de ser cruzeirense, pasmem!, eu era cruzeirense.
E não, eu não torço contra o vento. Nunca torci. Nunca precisei disso. Mas não porque eu torça menos, ou porque meu amor seja menor. E sim por um belo e simples motivo: eu estou sempre vestido com minha pele azul e branca. Além disso, minha fé no Cruzeiro Esporte Clube nunca fica no varal.
-João Gabriel Furbino de Novaes Gomes