quinta-feira, novembro 08, 2007

Ode à alegria

Corre, pula, ri, adora, chora, faz e acontece,
Porque a vida é mesmo esta canção que sobe e desce.
Anda, pega já suas coisas, sai lá pra fora e vai viver.
Faz de conta que o que interessa é só o amor.
Chama que sofre, beija, briga, bate, afaga e faz calor.
Olha só, repare bem, tudo é mesmo um vai e vem.
E, se não der pra entender agora, diga: -Tudo bem.
Quem sabe um dia você sai lá fora e o sol também?
Aí, pegue logo um raio dele e jogue pro bem que te convém.
Se a coisa então acontecer, você sabe: -É só magia.
Porque nessa vida o que importa é mesmo a alegria.

quarta-feira, outubro 31, 2007

Entre risos, quereres e prantos,
Minha angústia
Se perdeu entre sonhos,
Entre manias de signo, e afins...
Minha angústia se esconde em mim.
Pero sigo buscando la miel
En mis deseos estoy ahogado
Y los amores, mis frutos podridos
Me encantan, me vuelven chiflado
Mis ojos se quedan cerrados...
Así me duermo. Que venga mañana!
Con nuevos sueños, nuevos deseos...
Y que mi felicidad sea temprana
Y no se acuerde del pasado tan feo
Y del dolor que me ahogó los sentidos
Lo acepto, y sigo viviendo
Por que así lo es que lo quiso
Nuestro amado Señor Jesús Cristo!

-João Gabriel F. de Novaes Gomes

segunda-feira, outubro 29, 2007

Samba Canção

Um filme de baixo orçamento sobre um filme sem orçamento algum.

Esse foi o grande desafio da produção de Samba-Canção. Estúdios improvisados, equipe disposta e muita criatividade. Rodado originalmente em vídeo, super-8, 16 e 35mm, durante os meses de janeiro e fevereiro de 2000, o filme foi sendo montado até janeiro de 2001, quando foi completamente transposto para o formato da tela grande. Samba-Canção foi finalizado em julho de 2002 e agora parte para a batalha da distribuição. Samba-Canção tem ângulos inusitados da cidadezinha mineira de Belo Horizonte, com cenas filmadas no terraço do edifício Acaiaca - coração da cidade, cenas do nosso Cristo Redentor (yes, nós temos um Cristo!) no Bairro Milionários, e na hoje pacata Vila Militar no Bairro da Graça. A Boca do Lixo, em São Paulo, reduto do cinema marginal, foi o palco do encontro entre o nosso Zé Rocha e o mestre José Mojica Marins. Foi ainda em Caraquatatuba, que o intrépido Zé Rocha apresentou seu roteiro para Lila Lessa, a famosa atriz-de-novela-das-seis, sua futura sonhada estrela.35mm, 85 min, cor, dolby digital, 2002, Brasil. As aventuras e desventuras de um cineasta brasileiropara produzir seu primeiro filme.

O filme.

Zé Rocha está tentando produzir Samba-Canção, seu primeiro longa-metragem. Diante dos obstáculos e sucessivos cortes de orçamento, nosso artista vê seu filme ser gradualmente diminuído em seu formato - de uma grande produção em 35mm colorido, seu sonho passa a ser preto & branco, 16mm, super-8 e, finalmente, vídeo. Ao lado de Edna Marla, produtora que busca a fórmula da emulsão cinematográfica 100% nacional, de Dona Martírio, mãe e ex-militante de esquerda, de Guará Rodrigues, astro do cinema marginal, e Lila Lessa, estrela da novela das seis, estratégias e planos mirabolantes são desenvolvidos, para vencer a verdadeira batalha que se tornou fazer cinema no Brasil.

Primeiro longa do premiado diretor Rafael Conde, Samba-Canção é uma comédia sobre as trapalhadas cotidianas de um jovem cineasta.
Elenco: Nivaldo Pedrosa, Yara de Novaes, Teuda Bara, Carolina Duarte e Guará Rodrigues.Participação especial de Gorete Milagres, Rogério Cardoso, Maurício Tizumba e Zé do Caixão.

quinta-feira, agosto 16, 2007

A casa das baratas

Toda essa vida que a gente padece, toda essa loucura que a gente aquece, toda essa cachaça que a gente amanhece. Sabe com quem eu conversei outro dia? Isso. Isso mesmo, meu bem: com o Gurgel. Dessa vez ele estava acabrunhado. Não quis falar nada. Parecia que tinha tomado um porre daqueles. Perguntei O que, foi Gurgel? Tem alguma coisa te incomodando? Ele me olhou e seus olhos frios estavam mais frios ainda.

Não me disse nada, não me deu confiança. Ficou sentado aí, naquele banquinho ali, olhando para mim. Não quis incomodá-lo. Levantei, fui até à cozinha e tirei uma latinha da geladeira. Quando abri e me voltei, o Gurgel estava sentado naquela cadeira vermelha da mesa da cozinha. O que é que você quer, Gurgel? Aconteceu alguma coisa? Será que eu posso ajudar?

Mas o Gurgel não falava nada. Estava calado num banzo terrível. Parecia que tinha tomado oito lexotans três miligramas e ainda assim não conseguia dormir. Despejei a cerveja no copo, não gosto de tomar cerveja direto da latinha, e comecei a pensar. Sabe o que veio na minha cabeça, meu amor? A casa das baratas. Aquela vez em que nós descobrimos, no primeiro lugar em que moramos, a casa das baratas.

Você não se lembra? Eu lhe conto. A Alice estava nascida de pouco e já havia sido colocada no berço. Era de noite e fazia um pouquinho de frio. Você estava preparando uma sopinha e viu uma barata. Saiu correndo atrás dela e zapt, matou numa chinelada só. Foi aí que apareceu outra e mais outra e mais outra. Quatro baratas e você resolveu tirar aquilo a limpo e descobrir de onde vinham aqueles bichos. A sopinha foi esquecida e você partiu célere para descobrir onde viviam as baratas.


Depois de muito procurar, eu já incomodada com aquilo, nós encontramos a casa das baratas. Você lembra como era a casa? Uma casinha pequena, com poucos enfeites. Na parede da sala, um quadro de rosas amarelas; no centro, uma mesinha redonda com um aquariozinho de peixe no meio, dois sofazinhos vermelhos, uma estantezinha com alguns livros. Em um dos quartos, uma cama de casal, arranjada com uma colcha rosa e branca, os travesseiros por cima com fronhas a combinar. O armário branco tinha uma porta aberta, de onde se podia enxergar alguns vestidinhos e xales da dona Barata. Na frente da cama do casal, sobre uma mesinha, uma TV pequena ainda ligada, esquecida. Havia mais um quarto, um banheiro e uma cozinha. Tudo muito pequenininho. No quartinho, um bercinho branco de varetas finas e brancas onde dormia uma baratinha toda enrrugadinha. Ela tossia um pouco. Na cozinha, a dona Barata cozinhava alguma coisa tipo comida chinesa, com repolhos, pimentões, cebolas, couve-flor e pedacinhos de peito de frango. O seu Barato lia seu jornal e tomava um vinhozinho. As baratas que você matou deviam ter sido alguns vizinhos que vieram por causa do cheiro bom da comida da dona Barata e do viinho demi-sec do seu Barato. Deviam estar saindo tranqüilos depois de usufruírem da generosidade do dono da casa e você os matou. Matou do jeito que matou a Dona Barata, o seu Barato e a baratinha enrrugadinha do berço. Implacável com suas sandálias havaianas, revirando cama e berço, destruindo sofás, armário, estante, fogão e geladeira, derramando a comida pelo chão que antes estava limpinho, destroçando o quadro de flores e espatifando o aquário. Nem o único peixe vermelhinho você poupou. Eu fiquei um pouco triste porque, agora eu posso lhe contar, me deu uma vontade enorme de provar da comidinha daquele lar.

Depois, nada: lavamos as mãos e tomamos nossa sopinha.

sábado, julho 07, 2007

Pra Maria

O Paraíso é uma criança dormindo.

sexta-feira, maio 18, 2007

Então foi isso o que me lembrou. Este quartinho no centro da cidade. O pau quebrando lá fora e nós aqui dentro. Suando. Suando. Suando. Traindo. Traindo. Traindo. Eu me lembro muito bem como foi a primeira vez. Nunca que eu poderia pensar que aquele sujeito lindo e maravilhoso e casado que me parou no meio do bar e me deu os parabéns por eu ser tão linda e gostosa, que aquele sujeito tão sério e cheiroso que me disse Olha, eu não sou de fazer isto, mas pra você eu vou dizer Parabéns, porque você é muito linda e gostosa. Nunca que eu podia saber que aquele sujeito que pegou envergonhado a minha mão enquanto eu estava bêbada, que aquele sujeito que cheirava a jasmim no meio da tarde quente, que aquele sujeito sempre tão preocupado e neurótico de estar comendo uma menininha de 20 anos que ele havia pegado borracha num bar, que aquele sujeito pudesse esquecer as coisas todas lá fora no meio da cidade quente, que aquele sujeito pudesse esquecer os filhos e a esposa, o trabalho e a vida pra ficar fodendo como você fodia e, depois de gozar, me dar um beijo e dormir de roncar alto, enquanto peidava peidinhos fedorentos e musicais. Ninguém, meu lindo, pode nunca adivinhar o que vai acontecer.

quinta-feira, maio 03, 2007

Aniversário

Há alguns momentos em que a vontade é de se esconder. Aconteceu hoje. Chegaram umas pessoas e eu logo senti o desejo. Lá em casa tinha um quartinho escuro. As pessoas chamavam de quartinho escuro porque era mesmo escuro. O escuro fazendo parte do lugar. E foi exatamente isso o que eu senti. Uma vontade de me deitar no quartinho escuro e ficar lá assim, escondidinho. Então, veio outra imaginação. O que eu queria mesmo é o passado: ter entrado naquele quartinho escuro quando ele ainda existia e só podia ser mesmo escuro. Ter entrado lá e ficado para sempre. Ou, pelo menos, até hoje.

Assim, talvez, aquelas pessoas nem precisassem chegar pra eu sentir isto estranho aqui.

sábado, abril 07, 2007

Receitinha

Frigideira boa. Pouco óleo. Fogo baixo. Paciência.

sexta-feira, março 23, 2007

Crítica

Atrás dos olhos das meninas sérias:
Falar, um romance de amor e de ódio

Adaptada do premiado livro “Falar”, de Edmundo de Novaes Gomes, em Porto Alegre, 2003, a peça produzida pela Cia. Pierrot Lunar, e realizada por toda uma equipe mineira reconhecida é, no mínimo, um desafio ao público.

Desafio à platéia na sua capacidade de sustentar um espaço de angústia, de expectativa suspensa. Desafio pelo defrontamento com um espaço restrito e absolutamente ilimitado, asfixiante, de um lamaçal de contornos invisíveis.

A obra, em aberto, logo na primeira fala da personagem Ana, suscita, já, então, horror e fascínio e faz vislumbrar o clima cênico em que a peça se passará.

Paixão e tragédia, masoquismo primário e ódio primordial, excessos brutalmente respingados na platéia, na condição de um falar cotidiano, vulgar, no sentido do comum, do vulgo, dos nomes dados aos objetos e ao gozo, descarnados de seus eufemismos possíveis ou de um romantismo às vezes até aguardado, quem sabe, pelo espectador. Espera vã.

Verdade é que, salpicados a modo de tempero, para que se suporte a opacidade da repetição angustiosa do real, momentos de humor, que é sempre negro, surgem de quando em quando.

Colocam-se, de um lado o sujeito significante, exigido de um lugar de morte, de não sentido, tentando, através das palavras, articular o que está mais além do sentido, o exílio do indizível, o impossível do sentido e a Mulher, a morte, o gozo, a natureza e Deus, portanto a possibilidade de fazer valer a vida.

“Falar, falar, falar. Todo mundo fala, fala, fala. Por isso, agora também resolvi falar, falar, falar. Falar pelos cotovelos. Falar à beça. Falar à vontade. Falar contra a vontade. Falar até. Falar de mim. Falar de você. Falar de amor.”

“Foi aí que te vi pela primeira vez e. hoje, a única coisa que me dói é eu poder prever o destino e saber, saber seguro mesmo quando vai ser a última”.

“A gente tínhamos 19 anos. Você tomou o café e alguém cantava que tudo era inútil. E, para mim, isso agora tem um significado tremendo, absurdo. A inutilidade das coisas, a minha inutilidade, a inutilidade da vida. Será que é possível descobrir alguma coisa nesta lama toda?”

Daí se advinha o horizonte da peça, aparentada de Medéia. A cólera de uma mulher traída pelo marido, transportada, de fala em fala, em tempo atemporal, tempo do inconsciente, associação livre, enquanto direcionada, desde o início pela construção fantasmática de sua vingança, destilada, palavra por palavra, ponto a ponto, furando, passo a passo, até o âmago, o abismo tentador e imperscrutável do gozo da morte, dele e dela.

Interessante que Ana se valha de Gurgel, o suicida, que ocupa o lugar da exceção, do “fora da lei”, daquele que pode testemunhar do precipício, da morte e do céu e de Deus, que não existem.

Gurgel, neste sentido, é um homem “mascarado”, talvez mulher, seu interlocutor na fantasia que perpassa toda a historia do assassinato do homem. Assassinato, diga-se, realizado com palavras que vão se depurando em cada atrocidade, em cada bem precioso arrancado do antigo amor, em cada mutilação infligida àquele que outrora lhe garantira o nome de mulher. Gurgel faria vezes do objeto em torno do qual a fantasia de morte de Ana pôde se construir?

Roubada que foi de seu ponto de apoio, quando “seuhomem”, que dentre outras a escolheu “uma”, o que garantia a Ana, um lugar e um nome no desejo dele; Ela que faceiramente de Ana, se percebeu “dona” Ana, não mais era dona de nada!

Sem terra, sem lugar, sem nome, sem nenhum gancho significante, sem pertinência simbólica, que restaria a ela?

Quando alguns definem a peça como “acertos de contas de um casal”, há que se pensar tal acerto de maneira mais ampla.

Não há como “acertar contas” quando se trata de casal.

Há mesmo que se perguntar se um “casal” existe a não ser no sentido “genérico” do homem e da mulher que tentam articular alguma relação possível, onde ela não existe.

Enquanto o amor é capaz de bordejar este abismo entre um homem e uma mulher, um amor referido a algum muro, algum limite, alguma lei que consiga, da pulsão mortífera, fabricar desejo, coisa útil, talvez um casal se possa pensar um “casal”.

Finalmente, as performances de Léo Quintão e Neise Neves são magníficas. Magníficas, porquanto capazes de nos colocarem a nós, espectadores, mais que ouvintes, mais ainda, no lugar incômodo de analisantes, enredados nas teias de uma paixão desmesurada, experimentando, mais além do simbólico, a ruptura transgressora do excesso e mostram que são atores capazes de nos levar, se o permitirmos, a esse lugar sem atributos da Mulher e da morte.

No princípio era o verbo.

Do original, “Falar”, à voz, percurso de um trabalho que merece ser visto!

-Angela Maria de Araújo Porto Furtado é psicanalista

quinta-feira, março 08, 2007

Cadela

Na primeira vez, foi assim: a menina delicada na cama. Ele por cima. Não aconteceu nada. A menina rebolava, passava a mão, carinhava. Nada. Na última vez foi assim: a mulher sensível segurou e disse Isso acontece. Levantou. Antes de entrar no banheiro, deu um sorrisinho pra ela. Fechou a porta. É claro que ele sabia que isto acontecia. Ficou na frente do espelho. Dizia. Bem baixinho.

Quase um sussurro.

Haikai

esta é a estréia:
um olho no palco,
outro na platéia.

Atrás dos olhos das meninas sérias

Estréia hoje a peça Atrás dos Olhos das Meninas Sérias, baseada no meu romance Falar. A direção é do meu querido Juarez Dias. No elenco, o casal Neise Neves e Léo Quintão. A dramaturgia é assinada pelos três. Veja os dados na publicidade logo acima.