Minha adaptação livre de "Of human bondage", de Somerset Maughan, acaba de ganhar o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz. A montagem será feita pela Odeon Companhia Teatral, direção de meu irmão Carlos Gradim. É quase um sonho ver esse texto montado. A obra de Maughan me empolga muito e colocar mil páginas dentro de uma hora e meia foi um desafio. A foto acima é de Bette Davis e Leslie Howard, na adaptação para o cinema feita por John Cromwell, em 1934. Abaixo, um pequeno diálogo entre Mildred e Philip que escrevi, usando meus poderes escatológicos de enxergar, na rua, bichos que só existem no coração humano.
Philip na penumbra, num canto do palco. Mildred entra com outro vestido.
Philip
Mildred. Mildred.
Mildred
Que susto. Pensei que fosse um rato.
Philip
Um rato?
Mildred
É. Um rato. O que é que tem ser um rato? Este lugar anda infestado deles.
Philip
Nada. Mas por que um rato?
Mildred
Ora, por nada. Foi só o que me veio à cabeça. Com o senhor aí dizendo: -Mildred, Mildred. Parece mais um rato, chiando.
Philip
Não me trate assim, Mildred.
Mildred
E como pretende o senhor ser tratado? Como um bichano, um gato siamês?
Philip
Olha, Mildred, eu...
Mildred
O senhor, nada. Preciso ir embora. Tenho mais o que fazer com meu tempo...
Philip
Não é isso... Só queria dizer... Só queria dizer o que já te disse: que você não precisa me chamar de senhor. Você sabe... Eu acredito que já cheguei mesmo a lhe dizer que todas essas coisas podem ser desnecessárias entre nós.
Mildred
Desnecessário? Então, vou chamá-lo como? O senhor é ou não um verdadeiro gentleman?
Rindo.
E, aos gentlemen, é preciso tratar sempre de senhor.
Philip
Faça então como quiser, Mildred.
Mildred
Pois é isso mesmo o que farei. E vou-me embora. Como já disse, tenho mais o que fazer do que ficar parada numa rua escura conversando... conversando...
Rindo, como se tivesse tido uma boa idéia.
Philip
Mildred. Mildred.
Mildred
Que susto. Pensei que fosse um rato.
Philip
Um rato?
Mildred
É. Um rato. O que é que tem ser um rato? Este lugar anda infestado deles.
Philip
Nada. Mas por que um rato?
Mildred
Ora, por nada. Foi só o que me veio à cabeça. Com o senhor aí dizendo: -Mildred, Mildred. Parece mais um rato, chiando.
Philip
Não me trate assim, Mildred.
Mildred
E como pretende o senhor ser tratado? Como um bichano, um gato siamês?
Philip
Olha, Mildred, eu...
Mildred
O senhor, nada. Preciso ir embora. Tenho mais o que fazer com meu tempo...
Philip
Não é isso... Só queria dizer... Só queria dizer o que já te disse: que você não precisa me chamar de senhor. Você sabe... Eu acredito que já cheguei mesmo a lhe dizer que todas essas coisas podem ser desnecessárias entre nós.
Mildred
Desnecessário? Então, vou chamá-lo como? O senhor é ou não um verdadeiro gentleman?
Rindo.
E, aos gentlemen, é preciso tratar sempre de senhor.
Philip
Faça então como quiser, Mildred.
Mildred
Pois é isso mesmo o que farei. E vou-me embora. Como já disse, tenho mais o que fazer do que ficar parada numa rua escura conversando... conversando...
Rindo, como se tivesse tido uma boa idéia.
...com um rato.
5 comentários:
Parabéns! Como sempre dando motivos pra gente se orgulhar de ter sido seu aluno. Abração e comunique-se.
Parabéns Edmundo... Continuarei a prestigiá-lo quando se iniciar o espectáculo =)
Nilmar Barcelos
Parabéns, Edmundo! Pena que estamos longe e não posso acompanhar tudo isso mais de perto. Parabéns, parabéns, parabéns! Beijos!
nossa, há algum tempo atrás você deixou um comentário no meu blog (que estava meio totalmente abandonado!), e passei agora pra agradecer. bem... obrigada!
não tenha medo qnd eu disser 'volte sempre', pq agora lá não tem mais tantas teias de aranha.
ah!, vou comentar aqui o post anterior, pode? já foi:
adorei o haikai! teatro é muito inspirador mesmo ^^
Nossa, eu adoro teatro, e fazia até o ano passado. E teria o maior prazer em ir, mas agora moro em São Paulo e fica meio difícil, né? mas quem sabe um dia q eu estiver dando umas voltas por aí... =)
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